Tem dia que a gente abre o celular e sente uma leve náusea existencial. Todo mundo parece vivendo melhor: cafés estéticos, corpos definidos, relacionamentos que dão “match” até no feed. E a gente ali, sentado no sofá, com o cabelo meio úmido e o prato do almoço ainda na pia, pensando que a vida perdeu o brilho.
As redes sociais criaram uma sensação silenciosa de inadequação. A comparação virou rotina. O que antes era “deixar o tempo passar” virou “não estar fazendo o suficiente”. A caminhada sem fone, o café morno na xícara preferida, a conversa sem foto, nada disso parece render post. E aí vem o vazio, a ideia de que o simples deixou de bastar.
Mas talvez não seja a vida que perdeu a graça. Talvez a gente só tenha esquecido de olhá-la fora da tela.
A terapia ajuda a enxergar isso. A perceber o quanto a busca por uma felicidade exibível pode distorcer o que é real. Ela convida a questionar o que se chama de sucesso, a reconstruir o prazer no cotidiano e a escolher com consciência quem e o que ocupa o seu olhar.
Vale observar quanto tempo você entrega a ficar rolando a tela. Vale também perguntar: o que estou consumindo está me aproximando de mim ou me afastando?
A vida não precisa ser extraordinária para ser significativa. Às vezes, o que mais transforma é voltar a gostar do que sempre esteve ali, do cheiro do café, do vento na janela, do silêncio entre uma notificação e outra.
Aline Andrade
Psicóloga Clínica




