O custo emocional de viver em hipervigilância

Estar em estado de alerta constante. Olhar ao redor esperando que algo dê errado. Medir palavras, prever reações, calcular cada movimento. Isso é a hipervigilância, uma tentativa do corpo e da mente de se protegerem diante de experiências que, em algum momento, foram ameaçadoras.

É como se a pessoa estivesse vivendo com um alarme interno ligado o tempo todo. Mesmo quando não há nenhum risco real, algo dentro dela diz: “Fique atenta, algo pode acontecer”.

Essa postura pode ter surgido como resposta a ambientes instáveis: uma infância com gritos, imprevisibilidade emocional, críticas constantes ou a sensação de que o erro nunca seria perdoado. Nessas situações, ser hipervigilante parecia necessário para sobreviver. O problema é quando essa estratégia continua sendo usada mesmo quando o perigo já não existe mais.

A pessoa passa a observar o ambiente o tempo todo, tentando identificar se está segura. Nota expressões, tons de voz, movimentos sutis. Está sempre atenta a tudo e a todos. Em muitos casos, nem precisa que alguém diga o que está sentindo ou peça por ajuda. Ela já sabe. Se antecipa. Se responsabiliza. Se coloca no lugar de quem precisa ser útil o tempo inteiro, como se isso garantisse que não será descartada.

E é aí que a ansiedade encontra espaço para crescer.

O corpo vive tensionado. A mente, acelerada. Pequenas situações ganham proporções enormes. Um atraso na resposta de alguém vira sinal de rejeição. Uma mudança de tom parece ameaça. O silêncio de outra pessoa gera culpa ou preocupação.

A hipervigilância alimenta a ansiedade porque prende a pessoa num estado de antecipação constante. Ela não relaxa. Não se entrega. Não confia. Vive se preparando para o que pode dar errado, e isso a impede de viver o que está dando certo.

A psicoterapia pode ajudar a reconhecer esse padrão, entender sua origem e, pouco a pouco, permitir que o corpo desacelere. Porque ninguém deveria viver com medo o tempo todo.

Reconhecer isso já é um primeiro passo.

Aline Andrade
Psicóloga Clínica