Não é só sobre ele bater.
É sobre o silêncio que vem antes e o que continua depois.
É sobre o menino que cresce ouvindo que “homem não chora”, mas pode gritar.
Que não aprende a nomear o que sente, mas aprende a explodir.
É sobre o pai que ensina o filho a ser duro, e a filha, a ser boazinha.
Sobre a mãe que se cala diante do machismo dentro de casa, porque também foi ensinada a suportar.
É sobre uma cultura que ainda quer a mulher dócil, submissa, tolerante.
E o homem no controle, mesmo que descontrolado.
Sim, nós mulheres também fomos moldadas por essa lógica.
Fomos ensinadas a competir entre nós, a medir o valor de outra pela roupa, pela escolha, pelo corpo.
Nos ensinaram a julgar umas às outras em vez de nos acolher.
E, sem perceber, perpetuamos o machismo que nos mata em silêncio todos os dias.
A sociedade cobra da mulher paciência. Do homem, poder.
Da mulher, delicadeza. Do homem, domínio.
E quando essa equação explode em agressão, todo mundo finge surpresa.
Mas nenhuma violência nasce do nada.
Ela é cultivada em pequenas falas, em piadas, em olhares, em permissões.
E enquanto isso for tratado como “normal”, nenhuma de nós está segura.
A mudança não é só prender o agressor.
É encarar de frente o que ainda o sustenta: a cultura, a criação, o sistema.
Aline Andrade
Psicóloga Clínica




